segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Rede de Pontos de Cultura!


A Bah! Produção Cultural dentro da Oficina para formação de "Rede de Pontos de Cultura"

Por Ticiana Ribeiro

Como havíamos prometido na abertura deste blog, nós como uma entidade voltada para a cultura, estaremos sempre participando ativamente e de alguma forma em eventos do município para colocarmos a notícia em pauta... não de forma comum, mas uma notícia no ponto de vista cultural. E esta que trago hoje não é diferente: participação em peso de nossa ONG nesta oficina ministrada por Paulo Barbosa, ativista cultural que veio a convite da Secretaria Estadual de Cultura, onde foi atualizada informações para a formação de Redes de Pontos de Cultura em Ijuí e região de abrangência. 
Tivemos muitas entidades representadas, muitas perguntas feitas e sanadas de acordo com os requisitos exigidos para a avaliação e efetivação dos projetos para 2013.
O total de recursos investidos neste convênio chega a R$ 18,13 Milhões, contemplando grupos culturais da sociedade civil.
Mas, nem só disso vive a cultura, mas também de bons projetos e este foi nosso assunto na entrevista feita com o palestrante:



1 - Tendo contratado um oficineiro, independente de formação superior, como em um exemplo de escola de música, seria estritamente necessário ter esta formação, um conhecimento superior para educação musical? Que a pessoa que vá lecionar educação musical é obrigada a ter uma formação superior, para dar uma educação de qualidade para os alunos nas escolas?
Não. Hoje em dia estamos muito felizes com a inclusão da música na educação, desta possibilidade de ter música dentro das escolas e a gente entende que a música não necessariamente passe por uma tecnologia. O que define um músico, muitas vezes, não é o fato dele saber ler as partituras, saber escrever,  e sim se ele tem uma didática de como ele vai ensinar aquele conhecimento dele. Na minha opinião, a gente luta para abrir estes espaços para a música dentro da escola, mas não  no formato da escola, e sim, no formato da música, seria a música na educação e não mais uma disciplina dentro da educação. Então, poder romper os muros das escolas, levar estas crianças a conhecer os lugares de composição destes artistas, destes músicos, também rompendo estas barreiras, dos muros. E a gente entende também que pra ti construir produtos culturais, por exemplo, levar uma cantiga de roda ou uma ciranda, tu não precisa de nada disso pra estar estar levando este conhecimento que é muito ancestral, onde não se dependia de partituras, não se tinha tempo musical, nem nada, isso tudo era construído conforme os sentidos mesmo. Aquela questão da espontaneidade das pessoas. Acho que também isso é muito importante, quando a gente está cantando uma ciranda ou uma cantiga, a gente está trabalhando música, e não necessariamente os nossos maiores cantadores os nossos maiores cirandeiros não passaram por um processo técnico de conhecimento da música. E aqui, quando eu falo em música, de que música estou falando: a música européia, que é formada em partituras, quantos contratempos e quantos tempos existem entre uma nota e outra, quantas coisas diferentes a gente pode tirar fora desta orientação eurocêntrica de que é a música. Então, eu acho que é um pouco isso, acho que é ouvir a música. Música é feita para ouvir, não tem um pré-estabelecido ou um critério anterior pra ti ser músico.         



2 - Hoje temos jovens que desconhecem a história de seu povo devido à falta de incentivo cultural. Qual o primeiro passo para alcançarmos estes grupos? De que forma trazer estes jovens novamente para dentro da cultura?
Esta pergunta nos remete a uma realidade que a gente vive hoje em  dia. O uso e o consumo de drogas, o crack e tudo o mais. Então, a questão da evasão na escola mesmo, quais os fatores que levam estes jovens a evadir a escola. A gente tem o entendimento que falta uma identidade cultural para estes jovens se identificar com a escola. Então, a escola teria que começar a encontrar uma forma de conseguir compreender esta linguagem, como já dizia o Paulo Freire, que tu tem que falar a linguagem de onde tu está. Se o professor começar a falar coisas que aquele jovem nunca viu, nunca vai ver, não vai ter sentido pra ele. Eu acho que o hip-hop  hoje em dia, é a forma que dialoga melhor com este tipo de interação, porque tu pode transmitir um conhecimento através de uma oralidade, através de uma música. Quando se fala em hip-hop a gente tem muito preconceito em cima do que se pode ser construído. Mas cabe ao educador saber como que ele vai se apropriar deste conhecimento, que o hip-hop é um conhecimento, de que forma ele vai se beneficiar disso na escola. Que a gente entende que esta questão da juventude ela sempre foi muito complicada, e está ainda mais no mundo de hoje com toda esta cultura digital, toda esta tecnologia, com tudo o que a gente tem. Então, a escola parece que ficou parada no tempo, não conseguiu acompanhar a cultura. Como a educação, de certa forma, quando se separou lá a cultura da educação, eu tenho assim que foi um dos melhores momentos para a cultura, porque enquanto a educação continuou estagnada, com o giz e o quadro negro, a cultura se recontou, ela encontrou outra forma de se recontar na cultura digital, se interando das novas tecnologias, e hoje a educação vê isso e quer trazer esta cultura para dentro da escola. Então, tem que ser valorizada esta cultura de volta para dentro da escola. Não enquadrar ela dentro do currículo, e sim, tentar ver como esta cultura ela se movimenta dentro da escola.                   



3 - A visão do que é cultura hoje está um pouco esquecida ou mau interpretada. O que é a cultura em sua essência? De que forma ela pode ser melhor desenvolvida?
Como diz um mestre meu: Cultura é cultivar. Então, quando tu pára de cultivar, a planta morre. Então, a mesma coisa é com a cultura: se você deixar de cultivar, deixar de ter os espaços para as manifestações culturais, elas vão se adormecer, elas vão se deixar levar por esta mídia mais imediatista da televisão principalmente. Então, eu acho que este retrocesso da cultura é muito por falta de espaços que se possam cultuar estas culturas. É diferente, de tu tá podendo regar aquela cultura... é aquela metáfora da semente: tu planta a semente, ela nasce, ela cresce, ela reproduz, ela dá os frutos e depois ela morre. Mas, ela sempre produz a sua semente, que cai no chão para outra vir. Então, acho que é um pouco isso, tá faltando a gente ocupar os espaços públicos principalmente, com propostas culturais. Porque eu vejo que nós sofremos uma evasão dessa mídia globalizada que muitas vezes acaba mudando totalmente a relação das pessoas, onde os mais velhos acabam não tendo valor; se não se ouve uma pessoa mais velha, temos que aumentar estes espaços junto dos mais velhos e os mais novos. De que forma se coloca estas pessoas juntas para se entenderem... quanto foi a dificuldade de se ter um ônibus, pra se ter um asfalto na rua, pra ter um esgoto, como foi a batalha, quantas pedras foram tiradas do chão para se construir a cidade. Pra se hoje não se valorizar estas pessoas, valorizar a cultura destas pessoas, acho que só assim, colocando em contato, acho que falta fazer isso ai, que se pode ter uma valorização desta cultura adormecida.              


4 - Por que hoje temos o sentimento de que a cultura é mais voltada para as elites? Por que há tanta carência cultural para o povo como um todo?
Vou discordar um pouco de ti, quando você fala que a cultura está mais para a elite. Acho que está acontecendo cada vez mais o inverso: a elite está indo para os guetos, para as populações de cultura popular, pra lá realmente entrar em contato com a cultura. Porque a elite não consegue produzir cultura, ela consegue consumir a cultura. A elite, ela consome a cultura. Então ela acaba consumindo a cultura, acho que ai está a valorização da cultura popular, porque tu tem uma elite que é estéril que acaba vivendo em função do capitalismo, do acúmulo e acaba perdendo sua referência cultural. E no momento em que vai procurar por uma cultura, não é no teatro muitas vezes... o que que esta elite consome de cultura se não são as festas populares que existem, não é? Qual que é a cultura que eles consomem, qual que é a cultura? Não tem uma cultura... tem a cultura do trabalho. Mas não tem a cultura popular, a cultura da música, a cultura da arte, essa coisa espontânea. Então, eu acho que cada vez mais essa elite, ela vai acabar se voltando à essa cultura popular. E muito disso em função das políticas públicas que estão sendo criadas de valorização. Aqui no Rio Grande do Sul ainda tem esta diferença, mas é só você sair aqui do estado que tu começa ver as culturas populares sendo valorizadas, tendo produtos, dentro de uma rede de economia da cultura, onde esta elite acaba indo consumir essa cultura, porque a gente entende que esta elite não tem uma cultura, ela só consome uma cultura.           

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